Os quadros dos cães que jogam pôquer
Fonte: Cassius Marcellus Coolidge
No início do século XX, o pintor Cassius Marcellus Coolidge criou uma série de quadros de antropomorfismo nada convencionais para a empresa de publicidade Brown & Bigelow, na qual ele ilustrou cachorros de diferentes raças apostando em jogos de cassino, como o pôquer, e em outras situações humanas.
Marcados pelo seu humor e criatividade, os quadros de Coolidge ganharam um grande destaque ao longo dos anos, e hoje são considerados elementos marcantes da cultura popular. Não por acaso, é possível encontrar as cenas dessas obras icônicas estampando cadernos, canecas e camisetas, os quais fazem sucesso especialmente entre os apostadores, que acabaram desenvolvendo um apreço especial pelo trabalho do pintor.
Quem foi Cassius Marcellus Coolidge?
Nascido no ano de 1844 em uma família de fazendeiros, Cassius Marcellus Coolidge não chegou a estudar formalmente para desenvolver seus talentos artísticos durante a infância. Na vida adulta, o aspirante e pintor e desenhista investiu no ramo dos negócios, e chegou a administrar um banco e um jornal.
Apesar de nunca ter se afastado completamente de seu dom para a arte, com destaque para alguns trabalhos esporádicos como cartunista, Coolidge só criou os quadros que o tornariam famoso no mundo inteiro após os 60 anos de idade, sem sequer imaginar a grande repercussão que eles atingiriam.
Quadros mais famosos do pintor
Os quadros de maior destaque são aqueles que representam situações clássicas da vida de um apostador do início do século XX, com uma grande riqueza de detalhes e o diferencial de ser protagonizado por cães muito carismáticos. Na obra “Poker Sympathy” (“A Simpatia no Pôquer”), Coolidge retrata um buldogue completamente esparramado em sua cadeira enquanto um grupo de cães riem dele. Olhando mais atentamente, é possível perceber que a razão por trás da cena está no fato do buldogue ter perdido o jogo com uma quadra de ases, enquanto seu adversário apresentou nada menos que um straight flush.
Outro quadro muito conhecido é o “A Bachelor’s Dog” (“Um Cachorro Solteiro”), no qual um cão da raça collie está sentado confortavelmente em uma poltrona, lendo o jornal com um charuto na boca e um copo de bebida por perto, possivelmente se preparando antes de iniciar uma rodada de apostas.
Por fim, na sequência de quadros “A Bold Bluff” (“Um Blefe Ousado”) e “Waterloo”, o pintor ilustra o mesmo grupo de cães em dois momentos bem diferentes de um mesmo jogo de pôquer. Na primeira obra, os cachorros parecem atentos à espera da próxima jogada, enquanto no segundo quadro, o grupo demonstra grande surpresa após o blefe de um deles terminar em uma uma vitória espetacular, ganhando todas as fichas da mesa.
Curiosidades sobre as obras
Os quadros de Cassius Marcellus Coolidge já foram citados inúmeras vezes em programas populares de televisão, como no episódio “Treehouse of Horror IV” de “Os Simpsons”, em que Homer aparece em estado de choque com o antropomorfismo ilustrado nas obras. Além disso, o episódio “Saving Private Ryan” de “Family Guy” faz uma referência a Coolidge quando o personagem Mayor West aparece jogando pôquer com vários cachorros.
No cinema, também é possível encontrar referências diretas ou indiretas aos quadros do pintor nos filmes “The Thomas Crown Affair” e “Up - Altas Aventuras”. Enquanto no mundo da música, existem alusões na capa do álbum “Moving Pictures”, da banda Rush, e no vídeo de “What’s My Name”, do rapper Snoop Dogg.
Em 2005, o par “A Bold Bluff” e “Waterloo” foram a leilão na prestigiada Doyle New York. A estimativa era de que, com a popularidade das obras, as mesmas pudessem ser vendidas por cerca de US$ 30 mil. No entanto, para a surpresa dos que estavam presentes, os quadros foram vendidos por nada menos que US$ 600 mil para um colecionador anônimo, o que demonstra que a importância do legado de Coolidge vai além do que muitos imaginam.
Adoradas pelo público e rejeitadas pelos críticos
Ao mesmo tempo em que as obras de Cassius Marcellus Coolidge se tornaram um sucesso instantâneo entre o público, que se divertiu com a série de quadros de cachorros praticando jogos de cassino e outras atividades humanas, o mesmo não pode ser dito em relação a crítica. Muitos chegaram a definir o trabalho de Coolidge como um exemplo clássico do kitsch, um conceito que descreve produções artísticas sensacionalistas e bregas, feitas para agradar o público que não entende realmente sobre arte.
Consequentemente, os críticos nunca acreditaram que as obras de Coolidge teriam um alto valor no mercado, o que acabou não se concretizando. A venda dos quadros do artista pelo montante de US$ 600 mil o colocou no mesmo patamar de alguns dos pintores mais requisitados do mundo. Para se ter uma ideia, obras menos conhecidas de Pablo Picasso já foram vendidas por menos do que isso.
Possíveis inspirações para os quadros de Coolidge
Após o falecimento de Cassius Marcellus Coolidge, em 1934, seus quadros continuaram se tornando cada vez mais populares, o que levou muitos admiradores a se questionarem sobre qual teria sido a inspiração do pintor ao criar suas obras mais famosas. Nesse aspecto, alguns acreditam que Coolidge possa ter se inspirado em quadros clássicos de Paul Cézanne e Caravaggio, os quais foram os primeiros a apresentar pinturas em um cenário tradicional de cassino similar ao de Coolidge, porém entre humanos e não animais.
Já em relação ao antropomorfismo de suas obras, muitos especulam que Coolidge tenha sido um admirador do trabalho do pintor inglês Sir Edwin Landseer, em especial do quadro “Laying Down the Law”, que aborda um grupo de cães como advogados em um escritório. Apesar dessa similaridade, em colocar cães exercendo atividades humanas, o trabalho de Coolidge se baseou em uma atmosfera mais cômica e divertida, algo pouco comum até então.
Muitos não sabem disso mas a primeira obra de Coolidge representando cães e jogos de cassino foi “Poker Game”, concluída em 1894. Foi somente dez anos depois que a agência de publicidade Brown & Bigelow encomendou a série de quadros que o tornaria famoso, a qual é formada por 18 obras no total. A partir de então, as imagens do artista foram utilizadas em inúmeros conteúdos promocionais, como calendários, posters e folhetos, uma tendência de marketing que ainda estava começando a ganhar fôlego nesse período e acabou sendo essencial para a popularidade do artista.
Como as obras de Coolidge se tornaram um sucesso?
Mesmo com a descrença dos críticos de arte, os quadros de Coolidge alcançaram um status de popularidade compartilhado por um grupo seleto de obras, como é o caso da Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, e Noite Estrelada, de Van Gogh. Essa popularidade pode ser medida pelo fato do publico que não conhece ou não possui um interesse específico por arte conseguir reconhecer obras como essas com facilidade.
Isso não significa que os quadros dos cães apostando no pôquer e outros jogos tradicionais de cassino online tenham a mesma importância artística que a Mona Lisa, mas é indiscutível que as obras de Coolidge conquistaram um espaço significativo no imaginário popular. Alguns acreditam que a engrenagem que motivou todo esse sucesso contou com uma boa parcela de sorte. Para esse grupo, Cassius Marcellus Coolidge teve sorte em vender seu trabalho para a agência Brown & Bigelow em um período no qual os investimentos em publicidade se multiplicavam a cada ano.
Com isso, o artista teria se beneficiado do estouro desse mercado, e do consequente interesse do público por algo considerado como uma novidade. Naquela época, ainda não era comum as marcas divulgarem seus produtos com peças publicitárias, porém, foi assim que surgiram os quadros de Coolidge: como material de propaganda de uma importante companhia de cigarros.
Uma mescla de bom-humor e carisma
Não há dúvidas de que o momento histórico em que as obras de Coolidge foram lançadas era favorável, mas essa não é a única razão para o sucesso incontestável dos quadros entre o público, especialmente entre os apaixonados por cassino online Brasil. Ao explorar uma atmosfera divertida e carismática, o pintor conseguiu unir arte e humor de uma maneira única e cativante ao grande público, o que imortalizou seu trabalho e fez com que o mesmo continuasse a ser reconhecido tanto tempo depois de sua morte.
Curiosamente, em uma entrevista ao jornal The New York Times, a filha de Coolidge declarou que os animais favoritos dela eram gatos, e não cachorros. Já imaginou como seria se o pintor compartilhasse da mesma opinião que a filha e tivesse feito suas obras protagonizadas por felinos?